Entrevista de Peter Freeston, para swissinfo.ch, - dez 2011
Ele foi assistente pessoal de Freddie Mercury por 12 anos
O jornal sswissiinf.ch encontrou com Peter Freestone em um bar na cidade de Montreux, às margens do lago Léman. "Ouça a musica, diz indica uma caixa de som no bar. Pode apostar, é uma música do Queen." Ele viu mais de 300 concertos do Queen e diz o mais incrível foi em São Paulo.
Vinte anos atrás, o mundo da música perdia uma das figuras mais extravagantes e talentosas da histórica do rock. Há 20 anos, Peter Freestone perdia um grande amigo, ainda hoje recorda com afeto e emoção. Durante 12 anos, Peter Freestone viveu ao lado de Freddie Mercury, 24 horas por dia, 365 dias por ano, até o momento de sua morte. Foi assistente, cozinheiro, motorista e amigo fiel da voz do Queen. "Freddie era astro, vivia só para ele", diz com modéstia aquele que assistiu os concertos no mundo inteiro e frequentou grandes nomes da música, de Michael Jackson a David Bowie.
swissinfo.ch: Como se faz para ser assistente pessoal de um astro? - Encontrei esse trabalho no momento certo, em 1979. Eu era mestre do guarda-roupa da Opera Real de Londres e Freddie foi convidado para um evento beneficente. Depois de vê-lo cantar Crazy little thing called love e Bohemian Rhapsody fui cumprimentá-lo e ele elogiou meu trabalho. Duas ou três semanas depois, o empresário do Queen me chamou perguntando se eu podia cuidar dos figurinos de uma turnê pela Inglaterra. Fiz isso no primeiro ano, depois Freddie me convidou para trabalhar na casa dele em Londres. Em 12 anos de trabalho, nunca assinamos um contrato.

swissinfo.ch: E quanto pagava? - Em torno de 6 mil libras por ano. Mas eu não gastava nada. Quem gastava era Freddie. Então meu salário seria de 25 mil libras. Férias praticamente não tinha. Acompanhava Freddie nas férias dele, mas eu sempre tinha o que fazer. Uma vez perguntei se podia sair duas semanas e ele me respondeu: "Mas acabamos de voltar das férias!" (risos).
swissinfo.ch: Freddie era amigo mas o senhor trabalhava para ele. Como encontrar um equilíbrio?- Minha relação com Freddie dependia muito das circunstâncias. Mudava continuamente, de profissional a uma relação de pura amizade. Hoje ele brigava comigo, não porque tinha feito algo errado, mas simplesmente porque precisava desabafar. Ele sabia que eu o compreendia. Sempre pedia minha opinião, mas depois fazia como passava pela cabeça dele. (risos). Com Freddie imperavam os valores da amizade. Para mim foi o amigo mais leal, generoso e gentil que eu conheci. Fomos até juntos estudar em um convento na Índia. Eu aprendi muito com ele.


swissinfo.ch: Como era o dia em Montreux? Muito chato. Às duas da tarde entrávamos no estúdio de gravação. Todo dia. Às vezes Freddie ficava duas horas, outras até às quatro da manhã, conforme a inspiração. Enquanto eles gravavam eu esperava. Na cidade não tinha muito o que fazer, tinha no máximo um par de casas noturnas. Vinha-se a Montreux somente para trabalhar. Não dava tempo de fazer mais nada. Para ir do Palace Hotel ao estúdio tinha 500 metros, mas Freddie queria sempre ir de carro para não perder tempo. No início ele detestava a tranquilidade de Montreux. No final era justamente o que ele gostava. A serenidade do lugar o atraia nos últimos anos de vida.
swissinfo.ch: Como as coisas mudaram depois que Freddie anunciou que era soropositivo? No começo, Freddie parou de sair. Depois continuou a fumar e a beber. Em outubro de 1989, o médico disse-lhe que morreria antes do Natal. Mas sua força de vontade o fez viver mais dois anos. Freddie sabia que nada podia fazer contra a doença. Era isso e pronto. Mas não abandonou e se concentrou a fundo na música, que era sua vida. Aliás, quando soube que estava doente (1987) fez The Miracle, Innuendo e Barcelona. Trabalhava mais que antes. Sabia que tinha o tempo contado e queria fazer o máximo. De minha parte, pensava ter suportado bem a morte de Freddie. Depois me dei conta que não era assim. Três anos depois escrevi um livro e foi uma terapia para mim: pude colocar para fora minha dor. Freddie me dizia sempre que se fosse escrito um livro sobre ele, devia contar as coisas brutas. No meu livro também falo de coisas negativas, das festas e das drogas. Não menti. E Freddie acreditava na sinceridade. Sinto falta dele. Por vezes penso na vida que levamos. Mas depois me digo que foi sorte viver 12 anos com ele. Freddie dizia sempre não pensar no passado.
Swissinfo.ch: o senhor deu muitas entrevistas depois da morte de Freddie. Já disse tudo? Não. Há coisas que as pessoas não devem saber. Gosto de conversar com os fãs, mas há coisas que guardo para mim há anos. Quando me abordam respondo com prazer o que vi. Passei doze anos incríveis e tudo está gravado em minha mente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário